- Não olhe mais para mim.
- É assim que você quer? Poxa, é difícil para mim.
- Por favor...não..
- Adeus.
- Não faça isso comigo...
- Estou indo embora...desculpe...não tenho escolha.
- Tudo bem. Se é assim que você quer...adeus.
Marina não pôde conter as lágrimas. Chorava copiosamente. Teve que escolher entre estudar fora por seis meses ou ficar para sempre com o amor da sua vida. Aquela escolha doía mais do que uma ferida aberta. George acabara de ajudar com o despache das suas malas. Agora o via indo embora. Perdera a chance de ser feliz por pressão dos pais em querer que tenha "sucesso" na vida.
Mas o que ela queria era ficar junto dele. Viver como marido e mulher, assim, de maneira tradicional. Só que Marina partiu. E seu amor estava à mercê de outro (futuro) amor.
-"Senhores passageiros, desculpem-nos pelo transtorno, mas o Boing 777, vôo JJ 8084, destino São Paulo - Londres, foi cancelado por motivos de falha técnica no avião. Os passageiros deste vôo, favor aguardar na saleta ao lado da plataforma.Obrigada."
-Será possível? - pensou Marina- Será tudo uma conspiração?
Marina preferiu não pensar mais em nada. Preferiu esperar pelo seu vôo e pensar em como seria a sua vida sem George. Durante aquela tarde, Marina sentiu um aperto no peito e uma voz no "pé do ouvido":
- É duro pra você ter que abandonar o George, não é?
- É....mas que diabos é você?
-Eu sou o que você sente.Sou uma mistura da distância, da perda e do amor.Sou o solita-solitatis, a força de estar só,sou o sentir-se solitário. Enfim, meu nome é saudade. Estou em cada canto, em cada pessoa, em cada coração. Espero pelo momento certo para machucar, fazer doer, fragilizar os corações das pessoas.
- Mas porque você é tão cruel?
- Quem disse que sou cruel? Não...de maneira nenhuma. É fato que posso gerar sentimentos de angústia, nostalgia e tristeza, mas proponho ao indivíduo uma reflexão.
- Reflexão? A dor leva a reflexão?
-Tecnicamente, sim. Pense bem minha cara Marina...Sei que posso fazer com que as pessoas sintam minha presença por lugares ou objetos. Porém, faço o coração bater mais forte pela ausência de alguém.E isso faz com que as pessoas reflitam. Estou falando alguma besteira Marina? Marina começou a chorar novamente. Ela sabia do que a saudade estava falando.
- Eu sabia que você estava me compreendendo. Agora eu te pergunto: porque você está fazendo isso Marina?
- Fazendo o que?
-Abandonando a sua vida para viver longe dos seus sonhos.
-Meus pais....
-Ah...então é assim? Você escolheu o futuro dos seus pais?
O sonho dos seus pais? E o que você quer? E o que você pensa?
É a sua vida na mão de terceiros. Pense bem Marina.
-Mas...
-Mas o que? Vai ficar se lamentando? Você quer que eu a faça sofrer? Não é difícil para mim não Marina...
-O que você quer que eu faça??
-Ainda tenho que dizer o que fazer...raios! Vá atrás do George! É o seu futuro feliz. Não faça o que não quer para não se lamentar depois, se não, eu apareço com mais força... ainda dá tempo.
Pense bem nas coisas boas que um fez ao outro, pense também no amor de vocês. Não jogue isso ao vento Marina. Você me entendeu?... Marina?
Marina saiu correndo em direção ao táxi. Foi à casa de George. Mas ele não estava lá. Seus pais lhe disseram que ele não voltara do aeroporto ainda. Marina ficou muito triste. As lágrimas voltaram a rolar por sua face. Voltou para a sua casa. Não queria mais viajar.Ao chegar em casa, percebe pela janela de seu quarto, que as luzes estão acesas. Quem seria? Seus pais não estavam em casa, pois o carro não estava na garagem.
Correu sem medo em direção ao seu quarto e encontrou George.
-Vim "matar a saudade" de você. Estava olhando nossas fotos.
-Meu amor...
E indo em direção aos braços de Marina, pergunta:
-Porque você não viajou?
-"Vim matar a saudade de você".
-Promete que nunca vai me abandonar Marina?
-Nunca.
E a saudade, que por um momento fez papel de 'conselheiro' (cansado de trabalhar) , dá uma ultima olhada pela janela e vai embora, com a sensação de papel cumprido.
(Maria Clara dos Santos Batista)
mary! ta mudo foda su blog!